O socialismo e as igrejas (O comunismo dos primeiros
cristãos), um texto clássico de Rosa Luxemburgo é aqui publicado ao lado de
outro texto seu, inédito em português,
intitulado Anticlericalismo e socialismo.
Desta forma estão aqui reunidos os dois textos mais
importantes de Rosa Luxemburgo sobre o tema religião e socialismo, que tratam
da questão do comunismo dos primeiros cristãos, nos marcos do tema mais amplo
religião, igreja e luta de classes.
O socialismo e as igrejas foi escrito em 1905, no calor da
Revolução Russa (lembremos que naquele momento a Polônia de Rosa Luxemburgo
pertencia ao Império russo e que Rosa viaja para a capital da Polônia para
participar da Revolução Russa na Polônia). Ela integra a revolução em Varsóvia,
é presa e quase executada naquele momento.
Seu país natal, a Polônia é de forte base religiosa,
católica, e a igreja vai se levantar furiosamente contra os levantes operários
de 1905. Da mesma forma que a igreja polonesa nas décadas seguintes, que trata
de frear toda e qualquer influência do socialismo e do marxismo.
É naquele contexto que o ensaio aqui publicado, O socialismo
e as igrejas, se lança, naquelas circunstâncias, a explicar historicamente,
como se desenvolve o ódio de classe da igreja oficial contra os operários em
revolta mas também a própria contradição entre o discurso da igreja do seu
tempo e a doutrina fundacional do cristianismo, dos primeiros cristãos.
Com seu texto, Rosa Luxemburgo nos brinda com uma notável
história do cristianismo, desde um ponto de vista de classe que merece ser lida
por todo operário consciente e a juventude não-laica e inquieta, que teria
muitíssimo a aprender com Rosa Luxemburgo a respeito do significado histórico
do próprio cristianismo e sua progressiva degeneração em relação a suas
origens, em relação aos fundadores das primeiras comunidades cristãs.
Minuciosamente ela vai proceder à anatomia da relação entre igreja, poder
político e classe trabalhadora ao longo do tempo.
Lembrando que Rosa Luxemburgo, no ensaio sobre o
cristianismo, estende a análise de F. Engels, que já chamara a atenção para uma
corrente dentro do catolicismo do século XVI que desenvolvera elementos
revolucionários antagônicos com a igreja oficial (Thomas Münzer). E que se chocara
com M. Lutero e a sangrenta opção da religião oficial pelos poderosos. Isso
também irá ocorrer na revolução de 1789 na França.
No segundo ensaio Rosa Luxemburgo explica aos trabalhadores
do seu país que emergiam para a consciência de classe como e por quê a igreja é
uma instituição reacionária, ao mesmo tempo em que ela propõe sua separação do
Estado e total tolerância dos socialistas em relação às crenças religiosas de
cada um; e zero apoio financeiro estatal para qualquer corrente religiosa, e
critica a política burguesa de prestar às igrejas amplo apoio econômico do
Estado.
O segundo texto aqui publicado, Anticlericalismo e
socialismo, foi escrito em 1902 e publicado no ano seguinte. Ele trava uma
polêmica justamente sobre o programa do partido socialista diante da relação
igreja-Estado. Defendendo o princípio socialista de que “a religião é assunto
privado”, e que não fazemos da questão religiosa objeto de qualquer propaganda
especial, Rosa Luxemburgo mostra que os socialistas não somos neutros e nem nos
abstemos diante da questão pública da religião, isto é, da relação
religião-poder público. E por isso mesmo ela denuncia todo uso de dinheiro
público em favor de padres, dirigentes e instituições religiosas. Combatendo a
hipocrisia do anticlericalismo burguês ela propõe a mais absoluta separação
entre a religião e o Estado, as instituições escolares e de todo tipo; ao mesmo
tempo ampla liberdade religiosa para cada um. E confisco do poder econômico das
igreja
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